sexta-feira, 4 de junho de 2010

João Bernardo apoia a Ocupação e a greve de Filosofia e CS da UNESP-Marília, além da greve estadual de trabalhadoras/es

O capitalismo emprega a repressão como último recurso, e o desenvolvimento económico obtém-se através da recuperação das lutas e não pelo seu esmagamento. O principal mecanismo do crescimento da produtividade é a arte de se apropriar dos temas de uma contestação, de os virar do avesso e de os dar então aos trabalhadores como se fossem grandes concessões. É assim que em dois séculos se têm desenvolvido a indústria e os serviços. Se alguém quiser saber se um dado país ou um dado sector económico tem ou não capacidades de desenvolvimento, pode empregar um teste simples: ver se os governantes desse país ou os patrões e administradores desse sector económico são ou não capazes de proceder à recuperação das lutas.

Os órgãos repressivos fogem a esta regra, pelo facto de se destinarem simplesmente a reprimir. Os agentes da repressão são tão reprimidos como repressores. Dentro das forças armadas e das polícias vigora a cadeia de comando e a própria noção de contestação é abolida. Ali só há ordens e obediência.

Curiosamente, muitas universidades começaram a aproximar-se mais do modelo das forças repressivas do que das instituições económicas, o que talvez nos ajude a compreender o facto de se terem tornado tão escassas a criatividade científica e a originalidade cultural nessas universidades. Mesmo a USP, apesar das suas pretensões, parece aderir a este tipo de universidade, como mostram a demissão ilegal de Claudionor Brandão, diretor do SINTUSP, em 2008, e em 2009 o confronto entre manifestantes e policiais dentro do próprio campus da USP. Mas é na UNESP que se encontram os casos mais flagrantes. Recordo as expulsões de sete estudantes do campus de Franca em 2005, as suspensões em 2006 no campus de Araraquara, as sindicâncias no campus de Marília, outras sindicâncias no campus de Araraquara já em 2007, desta vez acompanhadas pela invasão da Tropa de Choque.

Mas os reitores e o governo não recorrem apenas às forças repressivas. Lançar umas categorias profissionais contra as outras e minar a unidade é também uma táctica antiga. Este ano, por exemplo, o CRUESP rompeu o acordo de isonomia salarial entre docentes e trabalhadores, aumentando o salário de uns mas não o de outros e, apesar de uma forte greve estadual, recusa-se a negociar.

A mesma táctica é usada contra o movimento estudantil da UNESP-Marília. Durante a greve do ano passado, os estudantes receberam do reitor a promessa de abertura do restaurante universitário no período nocturno dentro do prazo de seis meses. Ora, este ano, o reitor, por meio do Conselho Universitário, propôs a abertura do restaurante, entretanto privatizado, através da exploração de trabalhadores terceirizados. Será que a vitória de uma categoria tem de se transformar na desgraça da outra?

Contudo, neste último caso parece que a tentativa fracassou. Os estudantes da UNESP-Marília ocuparam a Directoria da unidade, reclamando não só contra a terceirização do restaurante universitário e defendendo um restaurante público, subsidiado e gerido por uma comissão de trabalhadores e usuários, mas também apoiando a greve estadual dos trabalhadores. Antes disto já os estudantes de Ciências Sociais e Filosofia haviam entrado em greve, e os cursos de Terapia Ocupacional, Arquivologia, Biblioteconomia e Pedagogia haviam paralisado as suas actividades por um dia.

Com efeito, já era tempo de os estudantes se terem apercebido de que nas universidades, além dos alunos e dos professores, existem outras pessoas, os funcionários das secretarias e dos restantes serviços. Se os estudantes pretendem opor-se à reforma neoliberal do ensino e defender uma universidade popular, parece-me que devem começar por unir as suas lutas às dos trabalhadores das universidades.

Por isso dou todo o meu apoio aos trabalhadores das universidades e dou todo o meu apoio à ocupação da Direcção da FFC-UNESP/Marília.

Saudações cordiais,

João Bernardo

Escritor, doutor pela Unicamp.

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